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Dia da igualdade feminina: Cruzeiro quer futebol feminino totalmente integrado

Por Josias Pereira

Kim Saito é a responsável pela condução do futebol feminino do Cruzeiro — Foto: Reprodução / Cruzeiro / Gerdau

O Tempo Sports fez uma entrevista exclusiva com Kim Saito, diretora do futebol feminino celeste; executiva falou sobre alvos, mudanças e desafios na Raposa

Há 102 anos, em um dia 26 de agosto, as mulheres nos Estados Unidos venceram a adoção de uma emenda constitucional que proibia a discriminação no voto com base no gênero e passaram a ter o direito de participar do processo político como eleitoras e, pela primeira vez, a oportunidade de moldar livremente seu próprio futuro como cidadãs com direito a voto. Desde então, nesta mesma data, é celebrado anualmente o dia da igualdade feminina, uma lembrança da representatividade feminina e da importância das vozes que não se calaram ante às injustiças.

Em várias áreas da sociedade, apesar de serem numerosas, as mulheres perseguem na busca pela igualdade. E uma destas frentes são os campos de futebol. O crescimento da modalidade é real e mensurado pelo interesse cada vez mais visível e notório, perceptível nas competições e os públicos registrados, além dos parceiros que têm se juntado ao futebol feminino. O Cruzeiro vive essa fase, com o projeto do clube tendo o patrocínio exclusivo da Gerdau, a maior empresa brasileira produtora de aço. Um parceiro elogiado por Kim Saito, diretora do futebol feminino celeste.

“Acho que isso passa por essa mudança de percepção. Você precisa construir posicionamento, olhar o futebol feminino como um projeto que é capaz de gerar receitas e retornos. Quando a gente chegou no Cruzeiro, tínhamos duas metas macro: vamos profissionalizar o futebol feminino e vamos tratar, como objetivo central, a modalidade como algo financeiramente sustentável”, destacou Saito, em entrevista a O Tempo Sports.

“Ter a Gerdau como o primeiro patrocínio exclusivo ao futebol feminino dentro deste ‘guarda-chuva’ do Ronaldo, da SAF, é extremamente simbólico. Mostra que é possível costurar receitas específicas para o futebol feminino. E a Gerdau vem se posicionando para muito além do esporte, é a maior produtora de aço do país e está envolvida diretamente com a cultura, com a educação. Está presente em outros clubes aqui de Minas e em outras modalidades. A parceria entre o Cruzeiro e a Gerdau se encontra em pontos comuns, porque queremos gerar um impacto positivo na sociedade e fazer do acordo algo rentável. Fazer o patrocínio seguir lógicas um pouco diferente do que nos acostumamos a ver no mercado do futebol. Para muito além das ativações, queremos de fato encontrar essas bases comuns, vamos fazer a diferença em toda a comunidade”, acrescentou a executiva celeste.

O desafio no futebol feminino do Cruzeiro 

Formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Kim Saito atua desde 2015 no ramo. Entre 2015 e 2017, atuou do Departamento de Comunicação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Antes de assumir a diretoria de futebol do Cruzeiro feminino, trabalhava como coordenadora de futebol feminino no Grupo R9, do Fenômeno, além de se dividir entre a gestão comercial na Octagon Brasil e de comunicação na RiosCom, empresa de Vitor Rios, diretor de Comunicação da Raposa.

Assumir o futebol celeste foi um desafio – e tanto – para Kim Saito. Desde 2019, por exigência da Conmebol, o Cruzeiro passou a ter um time de futebol feminino. E, mesmo em pouco tempo, a equipe obteve resultados, se classificando para a divisão de elite nacional, além da conquista estadual. No entanto, existiam gargalos que se aprofundaram com a delicada crise financeira vivida pelo Cruzeiro. A chegada da SAF e de Ronaldo trouxeram uma nova luz e mentalidade sobre o que era necessário fomentar dentro do futebol feminino. A palavra passou a ser integração total. Integração para profissionalizar o futebol feminino do Cruzeiro. Um processo que está em andamento.

“O pilar central de toda a conversa do que norteia o futebol feminino do Cruzeiro é um pilar estratégico, de reconhecer que o futebol está todo alinhado a um centro de profissionalismo. A grande missão dessa chegada foi olharmos o futebol como performance e modelo de negócio”, contou Kim à reportagem.

“Com isso, passamos a fazer mudanças estruturais. Integramos de forma 100% o futebol feminino dentro da estrutura do Cruzeiro. Hoje elas treinam na Toca 1 e estão inseridas na realidade da Toca 2. Elas pisam no mesmo campo, no mesmo refeitório, sempre com a alimentação coordenada por nutricionistas. Providenciamos chuteiras. O que está ao nosso alcance, estamos fazendo, passando por revisar contratos, um projeto profissional em que as jogadoras têm os direitos assegurados via CLT, mas que também possam receber o direito de imagem”, acrescentou a diretora.

Existe um grande campo aberto de oportunidades para o futebol feminino e o Cruzeiro, por meio de sua nova gestão administrativa para o futebol, vem procurando explorar todos os caminhos, oferecendo toda a estrutura necessária às atletas. É o que salienta Kim Saito.

“Para resumir o que vem sendo feito nos últimos meses, o desafio da gestão era realmente profissionalizar e isso passa pelo olhar que a gestão tem para a modalidade, como ela reconhece do futebol feminino a nível global, o impacto de uma Copa do Mundo de 2019, e que vai descendo pelas hierarquias. São coisas que podem parecer simples, mas hoje todas as atletas treinam com GPS e só cinco clubes da elite treinam e jogam com GPS. O Cruzeiro feminino, assim como a Ferroviária, usufrui da estrutura do futebol masculino, sendo oferecido às jogadoras suplementação. São as pequenas conquistas de hoje que estão preparando o terreno para colocar o sarrafo lá em cima”, projetou Kim.

Ronaldo, um entusiasta do futebol feminino 

A chegada de Ronaldo trouxe um novo ambiente no Cruzeiro. E isso também chegou ao futebol feminino. Os resultados no Brasileirão Feminino da Série A1 foram complicados para as Cabulosas, que acabaram a disputa da fase classificatória do torneio nacional uma posição acima da zona do rebaixamento, com 13 pontos em 15 jogos disputados. Mas o Fenômeno almeja muito mais para a equipe feminina. Ele é um entusiasta da modalidade e promete investir em novas fontes e captações para fortalecer o setor para as próximas temporadas.

“O Ronaldo por essência, por ser essa pessoa tão fora da curva, é um cara visionário. Ele é pai de meninas que gostam de jogar futebol. Ele quer saber tudo que está acontecendo, é estratégico. Para ele é muito claro o que uma Copa como a de 2019 reverbera, mas que também chega e gera impacto nas atletas e nas atuações do clubes. Por mais que ele não esteja presente o tempo todo, ele é muito estratégico e não vai abrir mão que todos dentro do Cruzeiro sigam uma metodologia, de até mesmo princípios de jogo do Cruzeiro. O Ronaldo vem usando muito a voz dele para ampliar essa mensagem da gestão profissional”, reforçou Kim.

A igualdade de gênero no futebol 

Proibido desde 1941, o futebol feminino só foi regulamentado no Brasil em 1983. Com isso, foi permitido que as mulheres pudessem competir, criar calendários, utilizar estádios, ensinar nas escolas, entre outras atividades. Sua criminalização, assim como a falta de incentivo marginalizou e colocou as profissionais numa posição de precariedade, refletida ainda em condições de treinamento e salários em um patamar muito aquém do que é pago aos homens.

Kim Saito observou o processo de mudança na modalidade. Um caminho que ainda precisa ser pavimentado, mas que os players e agentes envolvidos na modalidade vêm buscando trilhar para garantir um presente e futuro melhores para mais e mais garotas.

“Eu acho que tudo em algum momento passa pelo contexto histórico. A proibição ajuda a explicar esse contexto de disparidade seja no Brasil ou no olhar global. O Brasil não foi o único país com este contexto histórico de proibição. Acho que tem toda essa questão de cultura que ultrapassa a questão que está no campo. Hoje vemos narradoras ou comentaristas na TV aberta ou fechada, no rádio. É normal ter uma voz feminina. Já vemos árbitras, auxiliares, podemos olhar para o campos e ver mulheres nas comissões técnicas. Acho que acaba tendo esse complemento. Por fazer parte deste movimento, o meu sentimento é de gratidão pelo que muitas mulheres tiveram que sofrer, de fato, e agora podemos dar continuidade. Vamos mirar equidade. Acho que é uma questão de oportunidades, de ver uma menina que veio visitar o Cruzeiro porque foi proibida de brincar na escola”, relatou a executiva cruzeirense.

“Precisamos dar essas melhores condições para as atletas. Como é importante entendermos que elas precisam muito mais do que o salário. A gente trabalha com o auxílio moradia, por exemplo, porque queremos que a jogadora tenha uma vida para além do clube, tenham independência, sejam reconhecidas como atleta de fato. Essa briga em conjunto passa por dar oportunidades, mirar lá na frente. A diferença do futebol feminino, de ligas internacionais, como a WNBA e a NBA, por exemplo, é que talvez os esportes masculinos tenham chegado no sentimento de ápice, e tudo que essas modalidades femininas podem fazer é crescer. Estamos cientes destas oportunidades e queremos otimizar este processo”, garantiu Kim Saito.

Jogos no Mineirão e o objetivo de levar o futebol do Cruzeiro para o interior 

No próximo dia 18 de setembro, o Cruzeiro vai iniciar sua jornada no Campeonato Mineiro feminino encarando o América, na Toca da Raposa 1. Com o sucesso da Caravana do Cruzeiro, Kim destacou que existe em pauta a possibilidade de levar o futebol feminino da Raposa para o interior, com jogos sendo realizados em cidades do estado. Ela também comentou sobre a possibilidade de partidas no Mineirão ou no Independência, sempre um questionamento do torcedor.

“Tudo vai passar por esse movimento proativo, inquieto e criativo que estamos construindo no Cruzeiro. A gente quer levar o futebol feminino para esses grandes estádios, levar os jogos para o interior. Sempre estamos estudando o que podemos fazer um pouco de diferente, no mesmo dia que estava tendo um jogo da Libertadores, por exemplo, tivemos o recorde de público nosso. Estamos sempre conversando com a área de sócios, nosso departamento de comunicação, porque queremos atingir este crescimento entendendo o nosso torcedor, fazer com que eles entendam que, a partir do momento que vestirmos essas cinco estrelas, é o Cruzeiro que está representado. Por isso, ele vai querer ir ao estádio”, pontuou Kim.

“Temos tido ótimos diálogos. O Mineirão é muito interessado em ter o futebol feminino, mas é preciso ver uma questão do estádio, calendário, competições, shows, mas tudo é uma possibilidade. Queremos extrapolar aquilo de ter um único caminho possível. Vamos trazer novas soluções. A final da Libertadores feminina foi no Uruguai e não tinha time uruguaio no jogo, mas o estádio estava lotado, principalmente de famílias, crianças, meninas interessadas. Isso aconteceu porque a prefeitura de Montevidéu se mobilizou. Precisamos nos unir desta forma pra transformar o futebol feminino em um local para atrair essas pessoas ao estádio”, concluiu Kim.

No Cruzeiro SAF, o futebol feminino tem como alvo a busca pela construção de um legado dentro e fora das quatro linhas. Em campo, a equipe agora parte para a recuperação da hegemonia no futebol estadual após duas finais seguidas perdidas para o arquirrival Atlético. Seis times participam da fase inicial do Campeonato Mineiro Feminino: América, Araguari, Atlético, Cruzeiro, Nacional e Uberlândia. A primeira fase da competição acontece em turno único. Serão cinco partidas para cada equipe. As quatro melhores se classificam para a semifinal, que terá ida e volta. A final, todavia, será em jogo único, marcado para o dia 12 de novembro.

 

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